12 janeiro 2017

Geração bambu

Quando Mino nasceu, sua avó Pita e seu avô Luno tinham 102 anos. Viveram ainda mais 50 anos, quando abriram mão das técnicas de prolongamento de vida que haviam adotado. Foram eles que apresentaram o pequeno Mino ao mundo do passado sombrio que haviam presenciado até por volta de seus 15 anos, quando o mundo quase que literalmente explodiu, as pessoas passaram a vivenciar um cenário de barbárie e depredação, de doenças e carência de alimento e principalmente de água. Eles se conheceram em um momento de fuga dessa situação, quando suas famílias procuravam um local onde fosse possível sobreviver.
Naquela época, por volta do ano de 2080, tanto o meio urbano quanto o rural estavam deteriorados materialmente e seus habitantes careciam de ética, compaixão, segurança, confiança de todas as formas. A humanidade havia chegado a um estágio de evolução tecnológica que proporcionava todo tipo de comunicação interpessoal, de corporações, de governos, mas o comportamento moral e humano em geral estava comprometido e subordinado a uma espécie de lei do mais forte, do mais esperto, do mais audacioso dos seres.
Foi para fugir dessas condições que algumas famílias iniciaram uma caminhada praticamente sem rumo em busca de melhores condições de vida. Saíram das cidades onde viviam, numa espécie de êxodo seguido pela intuição. Não combinavam nada com ninguém, simplesmente saíam e eram seguidos por outras pessoas em busca da mesma paz. Ninguém sabe quem começou a caminhada. Não havia líder, não havia planos nem mapas. Só seguiram em frente até encontrarem um descampado árido, onde abriram suas barracas, colocaram seus pertences e suas famílias e começaram a conversar.
Descobriram um rio fino ali por perto; alguns traziam sementes; outros, pequenas tecnologias. Plantaram, puxaram água, colheram, ergueram habitações, alimentaram-se, purificaram a água, fizeram comida, foram erguendo um novo mundo para seus filhos.
Os filhos cresceram nesse sonho e foram alimentados de esperança de dias melhores. Pita e Luno ajudaram os pais nessa empreitada. Faziam tudo que os adultos faziam e aprenderam a sobreviver como todos os outros. Viram tudo mudar e crescer, depois de terem presenciado a depredação do meio em que vivam. Os pais seguiram o ciclo da vida até que só os filhos ficaram. Adultos, criavam outras crianças e jovens, e juntos fizeram florescer um mundo moderno e civilizado que deu origem ao mundo vivido por Mino. Todos os valores materiais e espirituais foram renovados. Toda a tecnologia foi renovada e empregada para o bem comum. A evolução da ciência e da consciência gerou um novo ser humano, que foi se revelando em todos os continentes.
- Parecia que éramos bambus, disse o avô, explicando a Mino que mesmo sem comunicação, todos os grupos sobreviventes desenvolveram os mesmos métodos e princípios em todos os cantos do Planeta, da mesma forma como se desenvolvem os bambus plantados a quilômetros de distância uns dos outros.